Lembro de quando te conheci e do quanto você parecia ser protetor comigo, pelo menos era isso que eu achava. Eu me sentia protegida e segura pela forma como você me tratava, achava que suas atitudes eram por se importar e querer cuidar de mim. Será que eu errei esse tempo todo?
Foi em uma balada que nos conhecemos. Você chegou em mim e me chamou de gostosa. Disse que meu vestido te provocava e que se pudesse me comeria ali mesmo. Achei que você estivesse bêbado e não vi isso como uma ofensa. Até mesmo porque estou acostumada nesse tipo de abordagem. Tentei sair de perto, mas você me agarrou, me beijou à força e colocou a mão por dentro do meu vestido. Consegui me desvencilhar, fiquei com medo e fui embora.
Posteriormente nos encontramos em diversas festas e você sempre criticava o fato de eu estar bebendo. Dizia que era feio uma mulher estar sempre com um copo de bebida na mão, que eu não podia fazer escândalos, que isso era errado. Mas você fazia o mesmo. Então qual é o problema em eu me divertir?
Mas achei que você pudesse ter percebido o erro que cometeu quando nos conhecemos e estivesse tentando me proteger de alguma forma. E aceitei quando você me convidou para sair.
Eu já havia ficado com muitos outros homens antes de te conhecer e você me criticava por isso, dizia que eu não poderia ser “fácil”, que eu tinha que “me dar o valor”. Eu não conseguia entender o que havia feito de errado, mas você me fez acreditar que tinha razão e eu me sentia culpada por isso, me sentia culpada por ter sido tão “vagabunda” até então. Você dizia que esse meu comportamento demonstrava que eu era uma mulher apenas para comer e não para ter um relacionamento sério. Mas o engraçado é que nós transamos no nosso primeiro encontro e foi uma noite maravilhosa, tanto para mim quanto para você. Então o que havia de errado nisso? E se a regra valia pra mim, porque não valia para você?
Você criticava minhas roupas. Dizia que meus vestidos eram curtos demais. Que eu estava querendo provocar os homens me vestindo do jeito que me vestia. Que eu não podia ser assim, que eu não podia me oferecer para os outros. E que se algo acontecesse comigo, a culpa seria minha.






Mas eu mudei. Mudei por você. Para estar com você. E achei que isso fosse o suficiente. Achei que você também mudaria. Achei que juntos seríamos felizes. E realmente acreditei nisso por um tempo.
Você não me deixava sair sozinha de casa, dizia que eu se estivesse sozinha algo poderia acontecer comigo. E quem cuidaria de mim se não fosse você? Você saia sozinho ou ia ao bar com seus amigos, mas isso não teria problemas, já que você sabe se cuidar. Mas eu? Eu sou indefesa e não posso correr riscos, era o que você me dizia.
Você me ligava constantemente, sempre queria saber onde e com quem eu estava. Eu achava que isso era preocupação, que você estava tentando cuidar de mim. Achava que isso era demonstração de afeto.
Você conhecia todas minhas amigas, mas não achava certo que eu tivesse amigos homens. Dizia que uma mulher de respeito não ficava perto de outros homens. Apenas do próprio namorado. Controlava até mesmo as pessoas que me adicionavam ou me procuravam nas redes sociais. Me fez acreditar que apenas “vadias” mantinham amizades com homens. E eu me afastei de todos eles.
Você dizia que me queria só pra você e que eu deveria me sentir feliz com isso, em saber que era sua propriedade. Deveria ficar satisfeita em saber que era desejada. Mesmo que eu não quisesse sexo por algum motivo, você me obrigava a manter relações sexuais com você e dizia que negar sexo era uma prova de que eu estava te traindo e que você não iria admitir isso, me ameaçava dizendo que iria divulgar entre os amigos nossos vídeos íntimos. Tivemos até relações sexuais sem preservativo, porque você dizia que era mais gostoso e que se eu tomava anticoncepcional isso já era o suficiente e não haveria problemas.




Eu sempre achei que estávamos em um bom relacionamento, até que cheguei em casa um pouco mais tarde, porque havia me atrasado no trabalho. Você achou que eu estava mentindo e me agrediu fisicamente. Ali eu percebi que algo estava errado. Ainda não havia percebido sua manipulação, a violência psicológica, a violência sexual, o controle que você exercia sobre mim e o quanto você tentou mudar quem eu era. Mas ali, naquele momento, eu percebi. Eu percebi e consegui sair dessa relação abusiva. Consegui te denunciar e me manter longe de você. E prometi para mim mesma, que nunca mais deixaria alguém abusar de mim dessa forma...

Texto baseado nos dados da pesquisa do Istituto Avon e Data Popular

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