Ela tinha mania de sair do trabalho e ir direto para a biblioteca municipal, aproveitar os últimos minutos de expediente da bibliotecária para conversar um pouco e escolher algum livro para levar para casa. Ela era apaixonada por leitura, em alguns momentos acabava vivendo mais na história de seus livros do que no mundo real, viajava com as tramas e se envolvia com os personagens de tal forma que era como se eles realmente fizessem parte de sua vida.
Nem sempre prestava atenção nas pessoas que estavam ao seu redor, mas reparou naquele rapaz, eles costumavam chegar à biblioteca no mesmo horário, iam às mesmas sessões literárias e saiam praticamente juntos, mas nunca haviam conversado. Certa vez a moça reparou que o rapaz estava usando uma camiseta do Grêmio (mesmo time que ela torcia), o que a fez ter mais vontade de conversar com ele, mas a vergonha a impedia. Ela não gostava de tomar o primeiro passo, era tímida demais para isso.
Ele gostava de ir à biblioteca e reparou naquela moça que sempre escolhia livros que ele já havia lido, achava graça nessa situação, mas ela parecia ser um pouco distraída e talvez não tivesse reparado que os dois sempre se encontravam por ali. Sem querer acabou ouvindo uma conversa dela com a bibliotecária, ela contava entusiasmada sobre um jogo de futebol enquanto a outra parecia nem ouvir o que ela falava (talvez não gostasse muito de futebol), e ali ele soube que ela torcia pelo mesmo time que ele e no outro dia fez questão de chegar à biblioteca com uma camiseta do seu time. Sua intenção deu certo, ele percebeu o olhar da garota sobre ele e o sorriso que ela lhe deu, mas ela parecia não ter dado muita importância e ele achou melhor não chegar perto dela.
E assim foram se passando os dias, ela percebia que ele sempre a olhava, mas também parecia não ter coragem de chegar perto dela, talvez não fosse para eles se conhecerem e nem se tornarem amigos.  





Naquele dia, a moça chegou à biblioteca interessada em ler um livro do autor Stephen King, havia lido a sinopse de “A dança da morte” e era aquele livro que ela queria ler, chegou ali decidida a levar esse livro para a casa, mas não o encontrou. Perguntou para a bibliotecária e descobriu que realmente não havia aquele livro na biblioteca, e isso a deixou desanimada. Sentou-se em uma cadeira tentando decidir se levaria outro livro, mas estava de tal forma obcecada por ler aquele, que não conseguia pensar em outro livro para ler. Naquele momento pensou em ir para casa sem levar nada, o que seria a primeira vez que aconteceria.
O rapaz chegou um pouco atrasado à biblioteca naquele dia, havia terminado de ler “A dança da morte”, de Stephen King, livro que ele havia comprado há poucos dias e ainda estava impressionado com a história. Quando chegou, viu a garota sentava em um canto com um olhar triste, ficou com vontade de perguntar o que havia acontecido, mas não sabia se era uma boa ideia, e logo ela foi embora, e como ele reparou, sem levar livro algum, o que achou ainda mais estranho e algo incomum. Escolheu um livro qualquer e foi até a bibliotecária para tentar descobrir se ela sabia o que havia acontecido com a gremista misteriosa, e ao descobrir o livro que ela queria ler, o rapaz não conseguiu conter o riso, pegou o livro de sua mochila e entregou para a bibliotecária com um pequeno bilhete. Já estava curioso para saber qual seria a reação da garota no dia seguinte.
No dia seguinte, a menina estava passando direto pela porta da biblioteca, havia decidido que não entraria naquele dia, ainda estava decepcionada por não ter encontrado o livro que queria e havia observado a forma como o garoto havia olhado para ela no dia anterior, como se estivesse com pena dela e não queria ter que passar por isso novamente. Quando estava quase chegando em sua casa, ouviu seu telefone tocar, era a senhora da biblioteca solicitando que ela fosse até lá, com urgência. Saiu correndo às pressas e não conseguiu acreditar quando descobriu os motivos da mesma tê-la chamado. Não podia acreditar que aquele rapaz a havia presenteado com um livro, ainda mais o livro que ela estava tão interessada em ler.
Ao se encontrarem novamente, ele a viu com o livro em uma das mãos e o bilhete na outra, e nunca havia visto olhos brilharem tão intensamente e nem um sorriso tão sincero quanto aquele. Ele sorriu também e pela primeira vez teve coragem de ir até o encontro dela.
- Espero que goste, esse livro... – ele começou a dizer, mas logo parou, assustado com os braços dela ao redor do seu pescoço e com a forma como ela o abraçava, percebeu que ela se erguia na ponta dos pés para conseguir alcançá-lo, o que o fez se abaixar um pouco para que também pudesse abraçá-la. Enquanto o abraçava, ela repetia várias vezes o quanto estava feliz por ter ganho aquele livro e o agradecia diversas vezes.
Ali os dois deixaram de ser apenas desconhecidos com gostos em comum, e uma bonita amizade estava prestes a nascer. Ela aprendeu a deixar um pouco sua timidez de lado e perceber melhor as pessoas que estavam ao seu redor. Ele aprendeu que pequenos gestos podem trazer felicidade. Ambos aprenderam que nas situações mais simples podem surgir grandes e boas surpresas. 

4 Comentários

  1. Adorei a história e os elementos, tu soube criar uma situação fictícia em cima de alguns elementos reais...ficou bem interessante!! ADOREI MESMO!!

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    1. Que bom que você gostou, até porquê foi escrito pra você! hahaha

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  2. Oi, Lenise!
    Aqui é a Fê, uma das moderadoras do projeto. :)
    Fiquei tão feliz com a sua história. Tão sensível! Acho que ela daria um bom livro. Já pensou nessa possibilidade?

    Beijos,

    Algumas Observações

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    1. Fiquei imensamente feliz com seu comentário Fê, você não tem ideia do quanto! Muito obrigada por isso! Essa história tem alguns elementos reais, nunca pensei em transformá-la em algo maior, mas já pensei em escrever um livro, quem sabe um dia? hahaha

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